O manejo da dor em cães com problemas articulares é uma área crítica na medicina veterinária, especialmente considerando o impacto significativo que a dor crônica pode ter na qualidade de vida dos animais. A dor articular em cães, comumente resultante de condições como displasia coxofemoral, artrite, e luxação de patela, requer uma abordagem multimodal que integre diversas estratégias para proporcionar alívio eficaz e sustentado.
Inicialmente, é essencial realizar uma avaliação completa e detalhada do paciente. Isso inclui um histórico médico minucioso e um exame físico focado, com ênfase na palpação das articulações, observação da marcha, e avaliação da amplitude de movimento. Exames complementares, como radiografias, ultrassonografias ou até mesmo tomografias, podem ser necessários para confirmar o diagnóstico e determinar a extensão da lesão articular.
Uma vez diagnosticado o problema articular, o manejo da dor deve ser iniciado de forma imediata. Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) são frequentemente a primeira linha de tratamento farmacológico. Estes medicamentos, como o carprofeno, meloxicam e o firocoxib, são eficazes na redução da inflamação e, consequentemente, na minimização da dor. No entanto, o uso prolongado de AINEs requer monitoramento cuidadoso, especialmente em cães idosos ou aqueles com condições preexistentes como insuficiência renal ou hepática, devido ao risco de efeitos colaterais.
Em alguns casos, o uso de analgésicos opioides pode ser indicado, especialmente em situações de dor intensa ou quando os AINEs sozinhos não proporcionam alívio adequado. Fármacos como a tramadol são frequentemente utilizados, e a dose deve ser ajustada conforme a necessidade e a resposta do paciente. É importante lembrar que o uso prolongado de opioides pode levar à tolerância e, em alguns casos, à dependência, exigindo um manejo cuidadoso e sob supervisão veterinária.
A terapia adjuvante também desempenha um papel vital no manejo da dor articular em cães. O uso de condroprotetores, como a glucosamina e o sulfato de condroitina, pode ajudar na preservação da cartilagem articular e, a longo prazo, na redução da progressão da doença e da dor associada. Esses suplementos podem ser administrados oralmente ou através de injeções, dependendo do caso.
A fisioterapia e a reabilitação são componentes essenciais na gestão da dor articular. Técnicas como a hidroterapia, massagem terapêutica, exercícios de alongamento e fortalecimento muscular podem ajudar a melhorar a mobilidade articular, fortalecer os músculos ao redor da articulação afetada, e reduzir a dor. Além disso, modalidades como a terapia a laser de baixa intensidade, a acupuntura e a eletroterapia têm mostrado benefícios significativos na redução da dor e na melhora da função articular.
Outro aspecto importante do manejo da dor em cães com problemas articulares é a modificação do estilo de vida. A manutenção de um peso corporal ideal é crucial, pois o excesso de peso coloca uma carga adicional nas articulações, exacerbando a dor. Dietas específicas para controle de peso, combinadas com exercícios de baixo impacto, como caminhadas controladas e natação, são recomendadas para evitar o ganho de peso e promover a mobilidade.
Nos casos mais graves, onde as intervenções conservadoras não proporcionam alívio suficiente, pode ser considerada a intervenção cirúrgica. Cirurgias ortopédicas, como a artroplastia de substituição de quadril ou a osteotomia de nivelamento do platô tibial (TPLO), podem ser indicadas para restaurar a função articular e reduzir a dor de maneira mais definitiva. No entanto, estas opções devem ser cuidadosamente discutidas com os tutores, considerando os riscos e os benefícios envolvidos.
Em resumo, o manejo da dor em cães com problemas articulares requer uma abordagem integrada que combina farmacoterapia, terapias adjuvantes, modificações no estilo de vida e, em alguns casos, intervenções cirúrgicas. A chave para o sucesso está na personalização do plano de tratamento para cada paciente, considerando as particularidades do seu quadro clínico e as necessidades individuais. A monitorização regular e a reavaliação do tratamento são fundamentais para garantir que o manejo da dor seja eficaz e que a qualidade de vida do cão seja maximizada.
Referências bibliográficas
1. Fossum, T.W. (2013). *Small Animal Surgery*. 4th Edition. Elsevier.
2. Johnston, S.A., Tobias, K.M. (2017). *Veterinary Surgery: Small Animal*. 2nd Edition. Elsevier.
Sobre o autor
Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta presencial pelo whatsapp (11)91258-5102 ou uma consultoria on-line por vídeo.
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